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A economia da inteligência artificial: entre a promessa e o risco da exclusão global

  • Foto do escritor: Neriel Lopez
    Neriel Lopez
  • 17 de set. de 2024
  • 3 min de leitura

Por Fabio Luis Pereira de Azevedo – Economista e Professor



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A inteligência artificial deixou, em 2024, de ser um tema restrito a especialistas em tecnologia. Tornou-se pauta central da economia internacional, objeto de disputas regulatórias e até de tensões geopolíticas. Os investimentos bilionários no setor, liderados por Estados Unidos e China, redesenham cadeias produtivas e criam um novo mapa do poder econômico.


A pergunta que se coloca não é mais se a IA transformará a economia global, mas como e para quem essa transformação ocorrerá.


O tamanho da promessa

Relatórios recentes estimam que a inteligência artificial pode adicionar entre US$ 13 e 15 trilhões ao PIB global até 2030, tornando-se um dos maiores motores de crescimento das próximas décadas.


Os benefícios são claros:


  • Produtividade: tarefas repetitivas e processos industriais já estão sendo automatizados, reduzindo custos.

  • Inovação: novos modelos de negócio emergem em setores como saúde, educação e finanças.

  • Velocidade: decisões e análises que antes levavam meses agora são feitas em segundos.


Não se trata apenas de tecnologia, mas de economia real. O impacto da IA já é visível em mercados de trabalho, bolsas de valores e cadeias globais de suprimento.


O risco da exclusão

Mas, assim como qualquer revolução tecnológica, a IA carrega riscos consideráveis. O principal é a exclusão: de trabalhadores, de países e até de continentes inteiros.


  • Trabalho: milhões de empregos em setores administrativos e de serviços correm o risco de extinção ou reconfiguração drástica.

  • Países em desenvolvimento: sem acesso a infraestrutura digital robusta, educação tecnológica e capital de investimento, grande parte do Sul Global pode se tornar mero consumidor passivo da revolução liderada pelo Norte.

  • Democracia e governança: o uso político da IA, seja em manipulação de informação, seja em vigilância, ameaça direitos e instituições.


“A tecnologia não é neutra. Se mal administrada, a IA pode ampliar desigualdades, fragilizar democracias e consolidar um mundo dividido entre produtores de inovação e dependentes da inovação alheia.”


O papel das potências

Estados Unidos e China lideram a corrida. Washington aposta na força das Big Techs e em parcerias público-privadas para manter a vanguarda. Pequim, por sua vez, combina estratégia estatal com inovação de mercado, usando a IA também como instrumento de poder político.


A União Europeia tenta ocupar um espaço próprio: não disputa diretamente a hegemonia tecnológica, mas busca liderar a regulação, com marcos legais de proteção de dados e uso ético da IA.


Esse triângulo – EUA, China e UE – definirá em grande parte o padrão global. O risco é que países fora desse núcleo sejam apenas espectadores.


O lugar do Brasil e da América Latina

O Brasil, como outras economias emergentes, precisa decidir se será ator ou plateia. A região tem talentos, universidades e setores produtivos que poderiam absorver e criar tecnologia, mas ainda sofre com lacunas estruturais: baixa conectividade, déficit educacional e limitada capacidade de investimento.


“Não podemos assistir passivamente à revolução digital. Se não formos protagonistas na adaptação, seremos reféns da exclusão. A IA não espera, e cada ano perdido aumenta a distância.”


O caminho, segundo Azevedo, passa por três pilares:


  1. Educação: formação em ciência de dados, matemática e pensamento crítico deve ser prioridade.

  2. Infraestrutura digital: internet rápida, centros de dados e energia limpa para suportar a revolução.

  3. Cooperação internacional: integração em redes de pesquisa e parcerias com países que já dominam a tecnologia.


Inovação e responsabilidade

A grande questão de 2024 é conciliar inovação com responsabilidade. Nenhum país pode, sozinho, enfrentar os dilemas éticos e sociais da inteligência artificial. São necessárias instâncias multilaterais, capazes de criar padrões mínimos de uso.


Se a IA se transformar apenas em instrumento de competição geopolítica, corremos o risco de uma corrida armamentista tecnológica. Mas, se usada como plataforma de cooperação, pode ser alavanca de desenvolvimento sustentável.


Conclusão: inclusão como estratégia

A inteligência artificial é ferramenta. Cabe a nós definir se será motor de inclusão ou catalisador de exclusões.


O mundo precisa garantir que seus ganhos sejam amplamente distribuídos, sob pena de transformar a promessa em nova fonte de desigualdade. Para isso, será necessário coragem política, visão estratégica e disposição para cooperar além das fronteiras nacionais.


“O futuro da IA não se decidirá apenas em laboratórios do Vale do Silício ou de Pequim. Ele se decidirá na capacidade da comunidade internacional de transformá-la em um bem comum, e não em mais um divisor global.”


 
 
 

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