O verão de 2025 e a economia do calor
- Neriel Lopez
- 30 de jan.
- 2 min de leitura

O calor chegou antes do calendário. Em janeiro de 2025, o termômetro já parecia zombar do tempo, registrando picos acima de 42 °C em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. (INMET, 2025) O país inteiro viveu uma sensação estranha: não era apenas verão, era uma prova de resistência.
Nas ruas, os vendedores de água não davam conta. Nos hospitais, as salas de emergência se enchiam de idosos e crianças desidratados. Nos escritórios, a produtividade caía junto com a paciência.
E então surge a voz calma do professor Fabio Luis Pereira de Azevedo, que não fala apenas como economista, mas como observador da vida:
“O calor extremo não é apenas um fenômeno climático. É uma questão econômica, social e política. Estamos vendo o custo do atraso em políticas de adaptação e sustentabilidade.”
O impacto invisível
A onda de calor trouxe efeitos silenciosos, mas profundos. O consumo de energia disparou, e com ele vieram os riscos de apagão. A inflação de alimentos subiu, pressionada pela quebra de safras no interior. E até as escolas tiveram de antecipar férias em algumas cidades, porque os ventiladores não bastavam.
Fabio, professor há décadas, lembra do contraste:
“Na universidade, discutimos teorias sofisticadas, mas o aluno que chega suado, exausto, sem conseguir se concentrar por causa do calor, é a prova viva de que economia e clima são inseparáveis. Como formar talentos se a sala de aula virou estufa?”
A conta que chega
Segundo a Confederação Nacional da Indústria, as ondas de calor em 2024 e 2025 já custaram bilhões em perdas produtivas. E o Banco Mundial estima que eventos climáticos extremos podem reduzir em até 5% o PIB anual da América Latina até 2030, se não houver adaptação.
“Essa é a inflação do clima”, resume Azevedo. “Não aparece em tabelas tradicionais, mas corrói renda, reduz produtividade e aumenta desigualdades.”
Entre o futuro e o presente
Enquanto governos anunciam planos de transição energética e metas para 2050, o presente escorre em suor. O Brasil, com sua matriz já relativamente limpa, poderia ser exemplo de liderança verde, mas tropeça na execução: queimadas persistem, obras de adaptação atrasam, e a pesquisa científica segue subfinanciada.
Fabio insiste que a universidade deveria ser protagonista nesse processo.
“Temos engenheiros capazes de pensar em cidades resilientes, agrônomos que conhecem a agricultura de baixo carbono, economistas que estudam modelos de financiamento verde. Mas falta transformar esse conhecimento em política pública. A ponte entre academia e governo ainda é estreita demais.”
Epílogo: o verão como metáfora
Na crônica de 2025, o verão é mais que estação — é aviso. O calor sufoca, mas também ilumina. Ele mostra, com clareza dolorosa, que o futuro já chegou e cobra pressa.
Azevedo olha para seus alunos e vê esperança, mas também ansiedade. “Eles me perguntam: professor, ainda dá tempo? E eu respondo: sempre dá tempo de fazer melhor, mas cada ano perdido custa mais caro.”
O verão de 2025 pode ser lembrado como o mais quente da história recente, mas também como o momento em que o Brasil percebeu que clima é economia, e que adaptação é sobrevivência.













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